Cinco livros para ler em um dia (cada um)

Antes de ler, verifique as engrenagens da máquina leitora.

Mosaico composto pelas capas dos livros Sempre a Oeste, Vigilantes e o multiverso do caos, gótico gourmet, universos afins e O estreito caminho entre desejos.

Eu sempre fico meio hesitante ao falar sobre uma “leitura rápida”, porque nessa era cronicamente on-line é muito fácil a gente cair na armadilha de ficar se comparando. Peso, aparência, poder aquisitivo, velocidade de leitura. Então quando eu falo sobre “livros pra ler em um dia”, por favor coloque todos os asteriscos necessários: caso você tenha tempo pra ler, caso você esteja interessado no livro, caso você esteja com cabeça pra ler, etc.

Capa de Vigilantes e o multiverso do caos, de Denise Flaibam. A capa é predominantemente roxa e rosa, com a ilustração de duas jovens, uma de pele marrom com uniforme vermelho de super heroína, a outra loira com uma regata preta e segurando uma espada. Ao fundo há prédios em ruínas, e acima uma figura mascarada com as mãos estendidas, como se controlasse marionetes.

Pra exemplificar: eu li “Vigilantes e o Multiverso do Caos” em um dia, exceto que comecei na sexta-feira e terminei no domingo. Na sexta-feira eu devo ter lido umas dez páginas, mas estava completamente sem tempo e sem cabeça. Curti, mas precisei fechar e ir fazer outras coisas. No sábado eu tive mais tempo livre, e simplesmente não consegui parar. Isto é... até mais ou menos a marca de 90% do livro, quando já era de noite e eu precisava dormir e acabei deixando o finzinho para domingo de manhã.

“Vigilantes e o Multiverso do caos” é uma história de super-heróis brasileiros. Mais especificamente, uma assistente de heroína e uma assistente de vilã que têm um namorico nas suas horas de folga acabam se unindo para tentar derrotar uma ameaça interdimensional que começa a possuir superpoderosos na nossa dimensão — tanto heróis como vilões. Os dois contos prequel não são essenciais para a história, mas também são leiturinhas de um dia só, muito adoráveis e fornecendo detalhes sobre como Odete e Helena se conheceram.

Capa de Gótico Gourmet, de T S Gomes. A ilustração que cobre a maior parte da capa é um close em uma mulher negra bebendo sangue O positivo de canudinho num copo de milkshake, a ilustração só mostra a mão segurando o copo e a parte de baixo do rosto, com sangue escorrendo dos lábios.

Gótico Gourmet – T. S. Gomes

“Gótico Gourmet” foi um que eu planejava ler na calma, um pouquinho aqui e um pouquinho ali, mas foi uma prosa tão fluida e com umas situações tão absurdas e divertidas que eu realmente, realmente só parei de ler para ir trabalhar. A história é sobre Ayla, uma vampira que tem um restaurante para vampiros, e Marcelo, um humano cozinheiro. Quando Marcelo está numa situação desesperada, ele bate à porta do restaurante pedindo um emprego, sem saber que é um restaurante de vampiros. E Ayla o contrata, sem perceber que ele é humano. Situações hilárias se seguem enquanto os dois encontram uma dinâmica que funciona, e alguns elementos misteriosos vão sendo esclarecidos.

Esse livro adaptado para uma série de uns 6 episódios seria meu sonho de consumo. Alô, Netflix!

Capa de universos afins, de Rainbow Rowell. A capa é 90% ocupada pelo título e nome da autora contra um fundo de céu estrelado. Também está escrito "um grande filme, uma fila não tão grande assim. cupcakes. Um título da autora de Eleanor e Park e CArry On"

Universos Afins – Rainbow Rowell

Minha próxima indicação é uma leitura com menos coisas acontecendo, mas ainda ágil e engraçadinha. “Universos afins” é um livro curtinho que provavelmente faz mais sentido para quem tem um conhecimento pelo menos mediano do universo Star Wars. Nele, a protagonista Elena quer viver a experiência de fã que acampa na frente do cinema antes da estreia do Episódio VII. Mas quando ela chega lá, a fila só tem duas outras pessoas. A história segue as interações meio embaraçosas desses três estranhos sobrevivendo perrengues como noites frias e ter que usar o toalete do Starbucks local, mas também fala sobre o relacionamento da Elena com o fandom: como ela aprendeu a gostar de Star Wars com o pai, como ela tem medo de ser julgada por algumas lacunas no seu conhecimento da franquia, sobre como suas amigas “normais” enxergam ela ficar uma semana acampada na fila de um filme nerd, e assim por diante.

Não é uma leitura genial, mas é bobinha de um jeito gostoso, e tem um lugar especial no meu coração porque me faz pensar na minha prima, com quem eu assisti todos os filmes da terceira trilogia no cinema.

Capa de O estreito caminho entre desejos, de Patrick Rothfuss. A capa é majoritariamente em tons de azul, mostra um homem jovem de cabelo preto comprido e camisa bufante segurando uma garrafa em uma mão e a outra estendida para a lua como se estivesse segurando ela. Ele está parado num caminho estreito entre uma estalagem e uma colina.

“O estreito caminho entre desejos” é uma novela do universo de “O nome do vento”, mas calma! Calma! Apesar de ser produto do Patrick Rothfuss eu juro que a obra tem qualidades redentoras. Em primeiro lugar, você não precisa ter lido “O nome do vento” para entender. Em segundo lugar: o protagonista é um feérico trapaceiro bonitão. Bast é um personagem que incorpora aquela ideia de feéricos como criaturas que operam através de acordos e promessas, e que não seguem a mesma lógica dos humanos. A história acompanha um dia na vida dele, desde antes do sol nascer até quase a meia-noite, e é um dia até que bastante normal — para ele. Bast tem uma rotina de cumprir tarefas para o seu empregador Kvothe, flertar com moças e rapazes atraentes da vila, e fazer pequenos pactos com crianças: uma desculpa para não ficar de castigo em troca de um segredo, ajuda com uma vingança infantil em troca de um favor. Coisas pequenas, mas infinitamente interessantes dentro desse mundinho.

Na verdade, essa é a minha parte favorita: essa não é uma história de riscos grandes. Os pactos do Bast com as crianças não teriam interesse para os adultos da vila, caso eles soubessem, e dificilmente tem uma consequência mais duradoura ou mais séria do que “seu irmão vai passar alguns dias com cheiro de xixi” — ao mesmo tempo que Bast não é um personagem que opera pela lógica normal e está muito longe de ser inofensivo.

Eu devorei a novela em algumas horas, e queria ler mais desse tipo de fantasia que é de “risco baixo”, mas que não chega a ser “aconchegante”.

Capa de Sempre a Oeste, de Guilherme L A Pimenta. O fundo é em tons pasteis aquarelados, e há a ilustração de um barquinho a vela sobre uma linha ondulada.

Sempre a Oeste! – Guilherme Pimenta

Um conto difícil de explicar. Se você me permitir ser poética, eu diria que “Sempre a Oeste!” é uma aquarela de melancolia e saudade. Sendo menos poética, é a história de uma garota, seu papagaio, seu barco e sua busca de chegar no Fim do Mundo. Ela reflete sobre a sua viagem, sobre uma pessoa que ela perdeu, fala com seu papagaio... e nos momentos em que suspeita que esteja enlouquecendo de insolação, seu papagaio fala com ela. Essa é uma história na qual “o que acontece” não é tão importante quanto “como você se sente enquanto acontece”. A história é curtinha, reflexiva, e eu acho a prosa bonita e gostosa de ler.

Essas não são minhas únicas recomendações de livros para ler em um dia, mas eu já falei de “As 220 mortes de Laura Lins” e “Temos nosso próprio tempo” em outro post, e a graça é poder falar com calma de cada livro recomendado.

E você, que livros devorou em um único dia?

Fotografia de Ana Carorina Dantas, uma mulher branca de cabelo joãozinho, usando óculos retangulares. Ela tem sobrancelhas grossas e uma trança fininha caindo sobre o ombro.

Ana Carolina Dantas é física nuclear e escreve histórias de fantasia e ficção científica focadas em relacionamentos interpessoais. Ela tem alguns contos na Amazon e publica na sua newsletter uma história de vampiros. Ana gosta de RPG, assiste One Piece enquanto lava louça e aparentemente é editora-chefe da VAL (ela nega as acusações).

Revisão: Luiz Felipe Sá

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