- Verifique Antes de Ler
- Posts
- Resenha Remix – Trilogia Tormenta, de Leonel Caldela
Resenha Remix – Trilogia Tormenta, de Leonel Caldela
Antes de ler, verifique se não está apostando nos dados contra o próprio deus do caos.
Gosto muito da história de como Caldela se tornou romancista oficial de Tormenta. Ele entregou um conto pessoalmente ao J. M. Trevisan, que só leu o material um ano depois e chamou Leonel para escrever o romance oficial. Tormenta RPG faz 25 anos em 2024, então acho que não tem momento melhor para trazer uma resenha remix da Trilogia Tormenta, os primeiros romances do cenário!
A trilogia se inicia com “Inimigo do Mundo”, um livro muito bem-executado, mas com alguns excessos. A obra conta a origem da Tormenta, a tempestade rubra de sangue ácido e demônios-inseto que dá nome ao cenário do maior RPG do Brasil.
Leonel é conhecido por “chafurdar na escatologia e no sadismo”, crítica que ele adotou de forma humorada como distintivo de honra. Apesar de ser uma marca que me agrada no autor, fica aqui o alerta para leitores que não sejam tão afeitos à violência gráfica: é um livro mais pesado do que a temática sugere.
Caldela desenvolve muito bem um grande elenco de personagens no primeiro livro: membros de um grupo de aventureiros. Mas, por ser um romance pensado para incorporar a essência de um cenário de RPG e pela tentativa de emular escolhas e atitudes comuns de grupos de jogadores, algumas atitudes, circunstâncias e motivações podem parecer estranhas.
Feitas essas ressalvas, posso despejar meus elogios, O “Inimigo do Mundo” é uma história sobre heróis, mas acerta ao humanizar seus personagens. Meu favorito é Rufus Domat, um mago de araque, cheio de falhas. Apesar de não ser uma pessoa muito legal, ele é o mais humano do grupo, e seu destino é mais terrível por isso.
O romance nos revela a origem do fenômeno que dá nome ao cenário, a Tormenta. Mas faz mais que isso, é uma história que se sustenta por si, sem precisar do cenário de RPG para torná-la interessante. Vale a leitura mesmo se você não joga.
“O Crânio e o corvo” é o segundo volume da trilogia. Considero esse o melhor dos três, pela trama muito bem amarrada e pelo final impactante.
Nesse livro, que se passa muitos anos após o primeiro, vemos o conflito dos reinos artonianos com a ameaça cósmica da Tormenta, mas o foco é em um novo protagonista, Orion Drake, um cavaleiro estoico, com predisposição ao trágico. Gosto muito da personalidade dele, especialmente porque os outros personagens destoam de seu jeito de “herói amaldiçoado”, gerando conflitos interpessoais interessantes.
Minha personagem favorita nessa história é Vanessa Drake, esposa de Orion e clériga do deus da guerra. A personagem é extremamente cativante e com camadas complexas, algo que é raro de ver um autor trabalhar em personagens femininas.
Além do casal, temos o anão Ingram Brassbones, o centauro Trebane e o médico Zebediah Nash: uma trupe eclética, cada qual com seu arco próprio. Juntos, eles descobrirão mais sobre a Tormenta e como enfrentá-la. Ao fim do livro, você terá se apegado a todos eles e sofrerá com suas agruras.
“O Terceiro Deus”, que encerra a trama, é uma aula de como escrever capítulos. O volume final é maior que os anteriores, mas cada capítulo é um prazer em si mesmo, e nenhuma das partes do texto parece arrastada ou desnecessária.
Aqui, Orion Drake, cansado das agruras de sua vida de cavaleiro e herói, se prepara para uma última aventura. Ele e seus companheiros, dois irmãos elfos que reclamam uma herança draconiana, se lançam num confronto final contra a tempestade rubra.
Orion precisa desvendar os segredos do grupo de heróis apresentado no primeiro livro para sair vivo do embate, e assim a história amarra-se de forma engenhosa, unindo todos os volumes da trilogia num fio narrativo grandioso. O livro trouxe mudanças significativas ao mundo de Arton, fazendo surgir novas ameaças e reconquistando territórios antes perdidos para inimigos implacáveis.
São três histórias bem diferentes que se entrelaçam para formar a fundação do maior cenário de RPG nacional, e uma das incontáveis razões para Leonel Caldela ser meu autor brasileiro favorito!
Revisão: MIle Cantuária
Lembre que a seção de comentários fica aberta, e adoraríamos ouvir suas opiniões sobre o artigo!
Reply