Resenha remix - O Evangelho do exorcista

Antes de ler, verifique se o novo esquema de pirâmide literário que você descobriu vale a pena ser lido até o final.

Banner contendo uma ilustração de morte encapuzada com rosto de caveira segurando uma foice. A morte está em preto e branco, e olha para o lado com carinho colocando uma mão caveirosa delicadamente sobre a capa do livro A roda de Deus, do Leonel Caldela. A capa mostra uma multidão usando roupas mediecais. Ao lado da capa há um círculo com a foto do M. P. Neves e o título "Resenha Remix - m p neves"

“Peraí, MP, o que diabos é uma resenha remix?”

Resenha remix é a minha nova coluna (aprovação pendente pelo conselho editorial) na VAL! Onde eu revisito algumas obras que já li e já resenhei na minha página do Instagram (me sigam lá, tem coisas legais, juro). Para você ter certeza de que pode mergulhar de cabeça nos esquemas de pirâmide certos, trarei resenhas de duologias, trilogias e séries como um todo.

Para começar, vamos com meu autor nacional favorito, Leonel Caldela, e sua duologia de ficção histórica e terror, O Evangelho do exorcista!

Essa duologia foi publicada através do financiamento coletivo do Nerdcast RPG Cthulhu, e é tangencialmente ligada aos eventos do RPG narrado pelo Leonel. Ao contrário de outras obras produzidas em contexto semelhante, como A Lenda de Ruff Ghanor, o autor teve mais liberdade temática e pôde mergulhar mais a fundo tanto em fatos históricos reais quanto nos Mitos de Cthulhu. Os dois livros constroem um arco narrativo fechado, sem necessidade de ter escutado os podcasts que originaram a obra, mas quem escutou vai reconhecer diversas referências, como pequenos “easter eggs” amaldiçoados.

Com um pano de fundo lovecraftiano, essa ficção histórica nos leva ao faroeste estadunidense, à Berlim dividida pós-Segunda Guerra, à Europa do século VIII,  à Batalha de Teutoburgo, nos tempos de Roma, e à Guerra dos 30 anos, entre católicos e protestantes, no Séc. XVII.

A Roda de Deus” inicia a trama com mais foco, concentrado em Carlos Magno e as fundações de seu Império Carolíngio, a partir da conquista da Saxônia.

A pesquisa histórica, especialmente no que diz respeito a Carlos Magno, foi primorosa, mas Leonel não deixou de permear a história com elementos do fantástico e do insólito, o que deixou um fã de horror cósmico como eu muito feliz. Toda a jornada pela história da Alemanha ganha ares épicos e sombrios, que fazem o leitor torcer ainda mais pelo sucesso dos personagens, que não são exatamente heroicos, mas ainda assim, humanos, mesmo em sua monstruosidade.

“O Criador da Morte” encerra a duologia com um panorama épico da história alemã,  desde Roma até a queda do Muro de Berlim, narrada com minúcia, de hora em hora, numa tensão crescente. O livro emprega mais elementos de terror e traz à tona consequências aterradoras às ações e as falhas dos personagens.

O horror cósmico está presente desde o início, mas aparece em maior evidência no segundo livro, com referências a deuses e criaturas mais obscuras da mitologia de Lovecraft, o que me deixou extremamente feliz. Não é sempre que vemos um autor nacional escrever sobre Ythianos e o Grande Antigo Ithaqua, escolhas que provam que  Leonel, além de tudo, é um grande veterano do RPG Call of Cthulhu.

Porém, o grande foco da segunda parte da narrativa é a história da cidade de Osnabruck, onde o autor morou por alguns anos, e foi palco de diversos eventos importantes na história, referenciados na duologia, como a Batalha de Teutoburgo, a fundação do primeiro Colégio da Alemanha por Carlos Magno, entre outros, que foram misturados a eventos fantásticos e sobrenaturais. A história é uma carta de amor a uma cidade, mas a carta de amor mais épica e grandiosa que já li.

Com essas obras, Leonel permanece em ótima forma como autor desde "A Flecha de Fogo", e continuo acompanhando seus lançamentos com admiração.

Devorei ambos os livros em sequência, porque sou muito fã do autor, e nas duas leituras consegui manter um ritmo excelente, preso tanto na narrativa engendrada por Caldela quanto na caça por referências do universo de horror cósmico dos Mitos de Cthulhu. Contudo, reconheço que se tratam de dois volumes bem densos, e que talvez não sejam ideais para todo tipo de leitor. O Evangelho do Exorcista é uma duologia para quem gosta de calhamaços, mergulhos profundos em eventos históricos e elementos sutis de terror que permeiam a história sem, contudo, interromperem o fluxo narrativo de uma boa ficção histórica. Gostei tanto dos dois livros que, escrevendo essa resenha, me vejo desejando relê-la. Nessa toada, cabe lembrar que os livros estão disponíveis em audiobook! Acho que vou seguir minha própria recomendação e revisitar a duologia enquanto dirijo ou treino. 

Foto de M. P. Neves, um homem branco de cabeo bem comprido e cavanhaque. Ele usa óculos e uma caiseta preta, e olha bem sério para a câmera.

M. P. Neves, autor da trilogia “A Ruína de Noltora” (Amazon), não acredita em finais felizes e bebe um copão de lágrimas de leitories todo dia de manhã. Quando ninguém está olhando, escreve histórias fofas como “Música Roubada” (Amazon). Os finais ainda são trágicos.

Revisão: Luiz Felipe Sá

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