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Um mapa das adaptações de Jorge Amado
Antes de ler, verifique se a pipoca já está pronta.
Jorge Amado dispensa apresentações. Já traduzido em mais de 40 idiomas e com obras editadas em mais de 50 países, o baiano é um dos grandes autores brasileiros, famoso pelas histórias de cunho social, narrativas focadas no povo simples da Bahia, Amado é um dos autores que representam a segunda geração do modernismo.
Entretanto, indo para além da literatura, Jorge Amado é, talvez, o autor brasileiro com mais adaptações para o cinema e para a televisão. Seus livros já renderam filmes — nacionais e estrangeiros —, novelas e minisséries. Neste texto, me proponho a fazer um mapa de suas adaptações; não todas e nem apenas as melhores ou as mais famosas, mas uma pequena trajetória pelo que já foi produzido.
Dona Flor e suas várias adaptações
Não dá para não começar comentando sobre a mais famosa adaptação: “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de 1976, que foi a maior bilheteria do cinema brasileiro por três décadas, levando mais de 10 milhões de pessoas às salas de cinema. Responsável por alçar a carreira do diretor Bruno Barreto, o filme receberia, seis anos depois, um remake estadunidense chamado “Kiss Me Goodbye”.
Dona Flor, interpretada por Sônia Braga, é casada com o malandro Vadinho, mas se torna viúva após um carnaval e, no futuro, se casa com o recatado farmacêutico da cidade. Com saudades do antigo marido, que apesar dos abusos era um ótimo amante, começa a enxergar seu espírito, e ela passa a dividir a cama com os dois.
A história de Dona Flor ainda seria adaptada pela Globo, em formato de minissérie, em 1988, e em formato de filme, em 2017, com Juliana Paes no papel da protagonista. É o livro do autor com mais adaptações.
A TV ama Jorge Amado
A minissérie “Dona Flor e Seus Dois Maridos” não foi a primeira adaptação do autor para a TV, e o filme de 1976 não foi nem a primeira adaptação de Jorge Amado com a maravilhosa Sônia Braga como protagonista.
Em 1975, “Gabriela” se tornava uma novela das 22 horas de sucesso. Inspirada no livro “Gabriela, Cravo e Canela”, Sônia Braga fazia a personagem-título, mulher sofrida mas alegre, que foge do sertão baiano por causa da seca e para em Ilhéus. Sua beleza encanta os homens, mas Gabriela se envolve romanticamente com o estrangeiro Nacib.
A novela se tornou um sucesso e um clássico da Globo, tendo um remake em 2012, escrito por Walcir Carrasco, com Juliana Paes (de novo!) como personagem-título.
Talvez você não tenha assistido à novela de 1975, mas talvez conheça a icônica cena, sempre relembrada, de Gabriela pegando uma pipa no telhado enquanto todos assistem de baixo. A cena, como não podia deixar de ser, foi reprisada em 2012.
“Gabriela, Cravo e Canela” mesmo foi adaptada em 1960 pela TV Tupi, mas quem amou Jorge Amado de verdade foi a TV Globo.
“Tieta”, de 1990, é sempre lembrada como uma das maiores novelas da Globo. Livremente inspirada em “Tieta do Agreste”, sua média geral de Ibope foi de 65 pontos, fazendo dela a segunda novela de maior audiência da Globo.
A história, de temática já clássica entre as novelas, fala de Tieta (Betty Faria), que é surrada e expulsa de sua cidadezinha pelo pai por causa do seu comportamento liberal. Vinte e cinco anos depois, Tieta retorna muito rica e decide se vingar das pessoas que a maltrataram.
“Terras do Sem-Fim”, de 1982, foi adaptada do livro de mesmo nome, e foi uma novela das seis (uma curiosidade é que “Terra Violenta”, um filme de 1948, baseado no mesmo livro, foi a primeira adaptação do autor).
Em minisséries, além da já citada “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, a Globo transmitiu “Tereza Batista”, em 1992, baseada no livro “Tereza Batista Cansada de Guerra”, e “Tenda dos Milagres”, de livro homônimo, em 1985. A Rede Bandeirantes ainda transmitiu, em 1989, “Capitães de Areia”, talvez o livro mais conhecido do autor.
Jorge Amado não era apenas um sucesso na literatura. Era reconhecido no cinema, e suas personagens eram um sucesso da TV. Suas histórias criavam tropos nas novelas seriadas e alçavam atores e atrizes para a fama.
Adaptações estrangeiras
Jorge Amado não era lido e assistido apenas no Brasil. Já citei o filme estadunidense “Kiss me Goodbye”, mas “Dona Flor e Seus Dois Maridos” recebeu, em 2019, uma adaptação para a TV mexicana em forma de novela.
Marcel Camus, diretor francês apaixonado pelo Brasil, que já tinha dirigido “Orfeu Negro”, filme baseado na peça de Vinicius de Moraes “Orfeu da Conceição”, filmou “Os Pastores da Noite”, baseado no livro de mesmo nome, lançado em 1977.
Em 1971, antes mesmo do Brasil pensar em fazer qualquer coisa com essa história, o livro mais famoso do autor, Capitães de Areia recebeu sua primeira adaptação: “The Sandpits Generals”, filmado nos EUA. O livro conta a história de Pedro Bala e outros meninos abandonados nas ruas de Salvador, sobrevivendo do crime. Curiosidade: o filme chegou a ser proibido no Brasil, vejam só, pelo Regime Militar, por forte conteúdo socialista.
Enfim, passei por cima apenas, e nem cobri todas as adaptações. Não citei, por exemplo, o filme “Tenda dos Milagres”, um dos meus favoritos baseados na obra do autor. Tantas adaptações de sucesso fazem dele um autor pop, com suas tramas conhecidas até por quem não costuma ler. Seja estudando para vestibulares ou vendo uma novela com os dizeres “baseado no livro de Jorge Amado”, todo mundo já ouviu falar dele no Brasil. Tantas adaptações fazem dele o Stephen King brasileiro.
Para além do sucesso na TV e no cinema, é inegável que Jorge Amado será para sempre lembrado pela sua escrita ágil, suas críticas sociais e seus personagens marcantes, sempre muito bem vivos nas páginas de seus livros.
R.R. Portela, morador do RJ, divide seu tempo entre seu trabalho, sua escrita e ser pai. Apaixonado por fantasia, você sempre vai encontrá-lo em mundos criados por ele ou por outros. Ele escreve no blog Cozinhando mundos. |
Lembre-se que a seção de comentários fica aberta, e adoraríamos ouvir suas opiniões sobre o artigo! Você já assistiu alguma dessas adaptações de Jorge Amado?
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